sábado, 1 de outubro de 2016

Quatro meses: fui ao centro de São Paulo e voltei duas vezes

É permanência e mudança: os problemas permanecem aqui. Preguiça, sono, dificuldades financeiras, questões de autoestima, pagar água e luz, cadastrar livros na Estante Virtual. Pouca coisa muda quando você muda muito. E quando você muda, pouca coisa muda, pouca coisa vai, muita coisa fica, muita coisa vai. O que é quero destacar é o caráter quase imensurável da mudança e da permanência. Desde junho de 2016 voltei a andar de bicicleta como um treino para a viagem de longa distância.
 
Trabalhador ciclista catador de papelão em Delhi, India
Trabalhador ciclista catador de papelão em Delhi, India. Foto de Travis Wise.
O que eu posso testemunhar das coisas que ficam? Ainda cultivo uma preguiça enorme de horários. Horário pra dormir, horário pra acordar, horário pra estudar, horário pra aprender, horário pra andar de bicicleta. Certamente o calendário e o ponteiro do relógio são cercas. Cercas que limitam toda a humanidade possível pra além da cerca. Quiçá pós-humanidades, estas que nunca conheceremos além das pistas tímidas que deixam em nosso tempo, maior cerca e posse. Noss@. Das coisas que nunca foram sei que há também as roupas surradíssimas. Há também aquela incerteza para escolher as coisas mais simples: café ou chá? Dormir mais ou levantar? Ainda há aquele inútil sentimento de tempo perdido, de coisas que poderiam ter sido feitas e que também não estão sendo feitas. 

E o que muda é muito pouco, quase proporcional ao que não permanece. Às vezes acordo cedo, como tapioca e chá. Respeito alguns horários em que preciso estudar, mas eles não são agendados. Eles são força da urgência. Comecei a fazer um curso de Pedagogia, como uma alternativa para ampliar as opções dentro da carreira e isto adicionou uma série de prazos à minha agenda. Ajudou a trabalhar a ansiedade para mais e para menos, dependendo do dia. São cercas que a gente pula  e volta. Criei apego com as roupas surradas, pois são as únicas disponíveis nesse momento da vida. Sobre as escolhas, difíceis escolhas de café ou chá, prefiro pensar que "o caminho é o fim mais que chegar". Dormir mais quando quiser, acordar cedo se precisar e às vezes negligenciar ambos. O tempo perdido permanecerá lá, assim como esse presente infinito. Procrastinar e retomar. 

E essa tem sido minha história com a bicicleta: procrastinação e retorno. O saldo, no entanto, é animador. Comecei a fazer algumas viagens mais longas, saindo daqui do Grajaú até o centro, bairro dos Campos Elísios. Levo cerca de de 2 horas e 30 minutos no trajeto, com breves paradas, numa velocidade média de 17 km por hora. O trajeto é de aproximadamente 40 quilômetros. 

O próximo passo é chegar aos 80 quilômetros diários e experimentar alguma rodovia. Farei isso em breve, conforme meu condicionamento físico e mental me permitir. Sem pressa.

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